sexta-feira, 7 de setembro de 2007

Provar nada pra ninguém

E derrubou com o mínimo de esforço um copo de cerveja na mesa inteira. Não, eu não deveria ter movido meu braço, sou meio desastrada, mas foi sem querer, nunca faria isso por querer, não sou tão idiota a esse ponto.
Enxurrada, vi cada gota voando pelo ar, mas eu não tive o que fazer a não ser abrir a boca pra dizer um "haaaan!!".
Não, eu não deveria ter movido meu braço, eu não deveria ter derrubado o copo, eu não deveria ter sentado naquela mesa, não deveria ter ido jantar, não deveria ter saído de casa, não deveria ter acordado, hoje só hoje não.
As coisas imprevisíveis acontecem pelo fato de você não enxergar nenhuma possibilidade delas acontecerem, e nessa noite pra mim nada disso aconteceria, banalidades que sempre estragam minha vida, ou pelo menos um dia dela. O engraçado e o que mais me perturba são seus olhos, você não conhece metade do meu jeito, você não sabe quem eu sou, vivendo 16 anos comigo. Talvez seja difícil enxergar que eu não sou essa babaca que você acredita que eu seja, deve ser difícil aceitar que eu não sou quem você queria que eu fosse, mas isso não faz diferença nenhuma agora, tudo o que tinha que ser dito já foi e só fez me machucar.

Eu cresci de acordo com os meus desejos, eu não disse nada que fosse pra te atingir, eu não disse nada dessa forma, você que sempre acha tudo o que eu faço errado, você que sempre distorce todas minhas frases, você que sempre acredita que eu sou apenas o que você vê por fora, você que não gasta um tempo querendo me entender, e eu que passo meus dias assim, às vezes sem olhar pra você, sem falar com você... E no mínimo isso dói muito.
Dói ver que você se sente indiferente quanto à mim, dói você não enxergar que eu não sou fútil, vazia, inútil como você acha que eu sou, dói não te orgulhar, dói muitas vezes ter que mentir pra você, dói não te contar minha vida e a parte mais bonita dela. E ouvir suas frases rústicas, dizendo que pra você tanto faz, dizendo que eu sou 'nota zero', olhando pra mim como se eu fosse alguém que pra você não significasse muita coisa além de problemas.
Eu tento não ouvir, eu tento ser indiferente como você, eu tento fazer o que me dizem pra fazer eu tento não chorar, tento fazer o que me dizem pra fazer, eu tento, juro que eu tento, mas eu não consigo ouvir tudo isso e ficar quieta, ouvir que eu sou uma... eu não sou isso, de verdade, eu não sou todas essas palavras que você me diz ser. Eu não sou, não.

Tantas brigas, tantos nós na minha garganta e sempre acaba assim, eu sendo tudo isso que você me diz ser, e tudo isso na minha cabeça, grudadas as palavras nos meus pensamentos, eu nunca vou conseguir ser melhor pra você. Eu continuarei sendo essa... Que você me diz ser. E depois eu voltarei com a minha cara lavada, como você disse, porque você acha que pra mim só o exterior vale, mas eu posso te dizer com todas as palavras eu não sou essa... Que você berra mil vezes que eu sou, eu não sou, não vou te provar que eu não sou, eu sei que eu não sou.

E aliás só pra deixar bem claro "EU TE ODEIO!". de verdade.

E não faz a mínima diferença se você é ou não meu pai, eu nunca trataria um filho meu desse jeito, dessa forma fria, grossa, eu nunca faria isso.
Pelo menos eu tenho um bom exemplo do que não devo ser, bem aqui, dentro da minha casa.

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