sábado, 8 de setembro de 2007

Fourteen

Acordava tarde, por volta das 11 da manhã, a claridade invadia a sala, a cortina bege que cobria a parede inteira voava devagar. Olhava ao redor, habituava-se com o clarão, ligava a televisão, se espreguiçava, ali começava um outro dia.
Um banho quente, fumaça pelo banheiro inteiro, brincava de jogar água nas paredes, desenhava no espelho embaçado, um coração e um nome que se quer lembra-se qual era.
Uniforme, calças azul marinho, listras brancas, camiseta branca, listras azuis, perfume, prendia os cabelos, colocava um par de brincos, pulseiras, tênis. Tomava um café da manhã-almoço, pegava a mochila azul, gritava um tchau bem alto e ia à escola.
Achava aquilo um barato, imagina só, pegar um ônibus sozinha, esperá-lo no ponto, finalmente tinha se livrado daquela perua escolar ridícula, achava mesmo que era independente e tinha liberdade suficiente pra 14 anos. E nem faz muito tempo...
Andava horrores, conversava, ria com uma amiga que jurava ser pra sempre, acabaram se distanciando um ano depois, coisas assim aconteciam, embora ela ainda não soubesse.
Voltava da escola contando tudo que tinha feito, todos os olhares que tinha recebido de alguém que hoje ela não se lembra muito bem, talvez fosse Fulano, ou Sicrano, não... Talvez fosse Beltrano. Ela pensou que fosse morrer de amor, mas hoje não se lembra quem era ao certo.
Chegava a cada dia com uma novidade diferente, o primeiro beijo de verdade com o fulano que amava, a primeira matada de aula, a primeira nota vermelha, o primeiro castigo, primeiro desgosto, primeiras frustrações. Tinha 14 anos...
Saía da escola, ficava comendo batatas fritas até 19:30, conversando e rindo com amigos que também foram-se com o tempo, pegava o ônibus de volta pra casa, corria pra que chegasse antes que a mãe, tirava o uniforme amassado, jogava a mochila num canto qualquer, trocava de roupa, jantava, fingia estudar, assistia televisão até a madrugada, escrevia no seu diário sobre Fulano, dormia, acordava às 11 da manhã do outro dia...

Dois anos depois lembraria de tudo num sábado qualquer meio nostálgico, martelando na cabeça uma frase feita que cabia como uma luva para os dedos dela, ela era feliz e não sabia.

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